segunda-feira, 15 de junho de 2009

Governo subestima inteligência da população.



E com razão. Ao criar dificuldades para a instalação da CPI da Petrobras, o governo conta com a falta de credibilidade que conseguiu impor à alguns meiosde comunicação. O governo conseguiu criar o mito do posicionamento ideológico da mídia, onde classifica qualquer notícia negativa como perseguição política.Os meios de comunicação caíram na armadilha do disse me disse e pecam ao deixar de informar os fatos com clareza e veemência. É possível inclusive que alguns editores considerem que as informações agora são vistas de modo político-partidário e não como simples informações. Notícias de corrupção envolvendo o governo são encaradas como peças de setores da imprensa para atacaro governo e não como "denúncias de corrupção". Notícias favoráveis ao governo são vistas pela oposição como matérias fabricadas por setores da imprensa favoráveis ao governo e não como notícias favoráveis ao governo. Ao invés de estimular os valores da imprensa livre a atuante, o governo endossa a deturpação das atribuições dos meios de comunicação, quando seus representantes, inclusive o presidente da república, repudiam qualquer notícia negativa sobre o governo e atacam publicamente os órgão de imprensa. Parte significativa da população assimilou este tipo de interpretação das notícias. Aproveitando-se desta realidade, o governo, inclusive o presidente Lula, se empenha ao máximo em adiar o início dos trabalhos da CPI da Petrobras. Parte da população concordaque a CPI é apenas uma forma de atingir o governo e seus planos eleitorais. Algumas pessoas não se dão conta de que pode mesmo haver muitas irregularidades na estatal e encaram como normal o temor do governo em permitir que a CPI se instale. Na prática,o que o governo tenta impor ao povo brasileiro é aceitar liberar um suspeito de crimeantes que o mesmo seja investigado, ignorando todos as evidências relativas à suspeição.Qualquer pessoa sensata aceitaria propor investigação sobre algo suspeito, mesmo acreditando na possibilidade de não haver nada de incriminador. A investigação éapenas uma forma de eliminar ou comprovar suspeitas. Ocorre que os meios de comunicaçãono Brasil parecem não conseguir colocar estas informações de forma clara para a população. Parece que os jornalistas preferem assimilar as estratégias do jogo político a revelar com clareza as implicações práticas desse tipo de conduta para apopulação e para o bem do país. Explorando esta caracaterística do que se convencionoua informação no páis nos últimos anos, a Petrobras lançou um blog onde acusa os meios de comunicação de atuarem contra o páis ao divulgar "supostas irregularidades na estatal"Na visão dos dirigentes da estatal, qualquer meio de comunicação que divulgue notíciassobre irregularidades na Petrobras está contra o povo brasileiro, num claro estímuloaos seus leitores a duvidar sempre do que é publicado por alguns setores da imprensa.De acordo com esta visão, não é possível que um cidadão critique o governo, sem que sejasimpatizante da oposição e vice-versa. O governo pretende eliminar o conceito de neutralidadebem intencionada. Falou mal, é oposição e pronto. Pior para o jornalismo, pior para o povo, pior para o Brasil.
Blog da discórdia
Acuada pelo perigo de ver reviradas as suas entranhas e pelo temor que talvez considere justificável! – de que lá se encontrem coisas que não poderiam ser reveladas, a Petrobras montou uma caríssima estratégia para prevenir-se dos efeitos da CPI criada no Senado por iniciativa do paranaense Alvaro Dias. Pôs a trabalhar em regime de exclusividade para este fim uma estrutura de comunicação social que envolve 1.150 pessoas e criou um blog na internet para responder, em tempo real, às suspeitas e fatos apurados na CPI – comissão que, aliás, ainda nem sequer pôde abrir os trabalhos em razão da disputa interna entre governistas interessados no butim de vantagens que ela pode gerar.
Pois bem: a ansiedade demonstrada pela empresa, símbolo nacional e joia da coroa dentre as estatais, levou-a ao ponto de protagonizar um inusitado e teratológico caso de desvio de finalidade da própria estrutura que montou e de desrespeito ao papel da imprensa e às liberdades democráticas.
De fato, ao colocar seu blog no ar pôde-se sentir o quanto a Petrobras desejava controlar o processo de divulgação, pois deu-se ao despropósito de revelar as perguntas que lhe eram encaminhadas pelos veículos de comunicação e seus jornalistas, com suas respectivas respostas, antes mesmo que as matérias jornalísticas que pretendiam produzir fossem publicadas.
Dois aspectos são os mais relevantes nessa estratégia. Primeiro, o de desrespeitar um dos mais singelos valores perseguidos pelos veículos e pelos profissionais de imprensa, qual seja o de produzir reportagens exclusivas. Segundo, pela inominável revelação, pela própria empresa, de que assim agindo teria condições de controlar os conteúdos a serem publicados.
Ditaduras não teriam tido ideia melhor. Elas, as ditaduras, para alcançar o mesmo resultado pretendido pela Petrobras, preferiam postar seus agentes dentro das próprias redações para determinar o que não podia e o que e como podia ser publicado.
Felizmente, a estatal se rendeu ao justo clamor de toda a imprensa nacional e extinguiu o método com que pretendia contrangê-la. Resta agora outra estratégia à Petrobras e ao governo: controlar a própria CPI. Tarefa bem mais fácil.

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