segunda-feira, 29 de junho de 2009

Gabrielli: contando com a impunidade


Contando com o jogo sujo da base aliada que lança mão de expedientes pouco nobres para adiar o começo da CPI da Petrobras, o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli insiste em desafiar o bom senso da população. Mesmo após a série de denúncias de fraudes em licitações, superfaturamento de obras, irregularidades no uso de verbas e desvio de royalties, o presidente da estatal desfila sua arrogância diante dos fatos.

A descoberta de que os integrantes da cúpula da empresa receberiam supersalários, segundo reportagem do Correio Braziliense não diminuiu sua insesatez. Apesar da nova denúncia, a CPI que investigaria esta e outras possíveis irregularidades não deve ser instalada novamente esta semana graças às manobras do governo.

Os diretores e o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, receberam uma soma de R$ 710 mil em 2007, o que corresponde a uma média mensal de salário de R$ 60 mil. Segundo o jornal, os dados foram obtidos numa documentação enviada pela Petrobras ao Ministério da Previdência e à Receita Federal.
“Até o Estadão entrou nessa matéria muito ridícula, porque ela é uma matéria que não tem fato novo nenhum, porque inclusive a divulgação disso é da nossa própria assembléia geral, que é pública. A informação refere-se à remuneração dos dirigentes da Companhia de forma bastante truncada, envolve um claro indício de crime de quebra de sigilo fiscal, porque, aparentemente, o repórter que fez a matéria para o Correio Braziliense obteve de forma fraudulenta informações fiscais que são protegidas pelo sigilo fiscal. Dessa maneira, portanto, de um lado ela é evidência de um crime. De outro lado, do ponto de vista dos valores, são bastante “modestos” comparados com empresas do mesmo tamanho” Declarou Gabrielli sobre a divulgação dos supersalários dos apadrinhados políticos em altos cargos na estatal.
“Você torna mais vulnerável os profissionais da Companhia às atrações de mercado. Como é que nós evitamos isso? Como é que nós deixamos de perder talentos? Nós temos a política de retenção de talentos” Complementou, esquecendo-se de acrescentar que os executivos do mercado recebem altos salários por mérito e não por apadrinhamento político.

O reajuste de até 90% para a diretoria executiva da Petrobras foi autorizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, entre 2003 e 2007. A diretoria da estatal é formada majoritariamente por “talentos” da base aliada ao governo: PT e PMDB. Indicado pelo PT, o diretor de Operações e Exploração da empresa, Guilherme de Oliveira Estrella, por exemplo, teve seu salário aumentado em quase duas vezes em quatro anos: de R$ 368.711,36 em 2003, para R$ 701.764,79, em 2007. De lá pra cá, não se sabe a que ponto esses abusos podem ter chegado.

Apesar da legalidade da ação, o senador e autor do requerimento de criação da CPI da Petrobras, Alvaro Dias (PSDB-PR), afirmou: “nós não estamos discutindo a legalidade: nós estamos questionando a moralidade”.
Subestimando a inteligência da população, Gabrielli alegou que diante da falta de fatos determinados para investigar, senadores estariam apelando para "fatos artificiais" armados em combinação com a imprensa, ou a "coscuvilhices" (mexericos), palavra que incorporou definitivamente ao seu vocabulário. A seguir, fez uma ameaça velada: "Estamos preparados para um vale-tudo". E acrescentou: "O ataque também faz parte da defesa". Na mesma entrevista, prometeu processar o jornalista que vazou matéria sobre os altos salários dos apadrinhados políticos da estatal:
José Sergio Gabrielli: "A fonte ele não revela. Nós não podemos. A matéria é assinada. A suíte que foi feita hoje pelo Sr. Amauri Ribeiro Júnior repete esse crime, ele assume que houve uma quebra de sigilo fiscal, porque ele tem documentos enviados à Receita Federal. Está explícito, assinado, a matéria é assinada por ele. Ele está assumindo um crime. Não pode ficar impune uma coisa dessas"...
A reação veio rápida. "Essa arrogância do Gabrielli esconde medo", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Líder do PTB e vice-líder do governo no Senado, Gim Argello (DF), um dos articuladores do movimento para barrar a CPI, ficou desconsolado com a entrevista. "Não vejo necessidade em bater no Congresso. Não vejo parlamentares com intenção de detonar a Petrobras", observou.

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